Undead
2003 / Austrália / 104 min / Direção: The Spierig Brothers / Roteiro: The Spierig Brothers / Produção: Michael Spierig, Peter Spierig / Elenco: Felicity Mason, Mungo McKay, Rob Jenkins, Lisa Cunningham, Dirk Hunter, Emma Randall, Steve Greig, Noel Sheridan
Em tempos em que The Green Inferno de Eli Roth recebe o “original” título de Canibais aqui no Brasil, tivemos em 2003 um filme de australiano de zumbi trash até a medula com o mesmo nome, e que é uma tradução absurdamente improvável de Undead, que significa, Morto-Vivo.
Pois é, e se pensarmos em cinema de terror da Oceania, salvo alguns raros exemplos, é muito difícil não imaginá-lo como uma podreira gore camp de baixíssimo orçamento e do mais alto gabarito. Fora assim como diversos filmes do Ozploitation e nunca vamos nos esquecer do caso máximo de Peter Jackson, vindo da ilha vizinha, a terra do Kiwi (o animal, e não a fruta ou o jogo) com seu Trash – Náusea Total e Fome Animal.
Aliás, sem nenhuma novidade que o longa dirigido pelos irmãos Michael e Peter Spierig tem como um influência mor as fitas splatstick de Jackson, tanto na presença abundante de sangue e nojeira, quanto situações ridículas de humor caricato, zumbis e uma pegada tosca sci-fi, visando somente o exagero e a diversão.
Na trama, uma chuva de meteoros atinge a pequena cidade de Berkeley, na Austrália, e de bate-pronto seus moradores começam a se transformar em zumbis. Um grupo formado por René Chaplin (Felicity Mason), escolhida como a Miss Berkeley do ano de 2002, Marion (Mungo McKay), um pescador armado até os dentes (que possui uma engenhoca com três calibe 12. Acopladas) que já fora abduzido e se preparou para o “fim do mundo” iminente, e mais um aviador e sua esposa grávida e dois policiais (sendo um deles um clone do Freddie Mercury), fica preso na casa de fazenda de Marion (claro que a referência de A Noite dos Mortos-Vivos estaria presente) e precisam lutar por sua sobrevivência e tentar fugir da cidade condenada.

O que difere Canibais dos demais filmes de zumbi é que o motivo da transformação em cadáveres ambulantes comedores de carne humana é um pouco (muito) diferente do usual. A culpa aqui é dos alienígenas e sua “chuva ácida”. Mas na real, há aí uma inversão de valores no final da trama que faz com que os visitantes extraterrestres na verdade sejam “do bem” e estejam querendo curar os humanos das doenças, e aqueles que morrem e se transformam em zumbis na verdade são os que não foram curados e mortos por nós mesmos.
Nesse meio tampo, vamos testemunhar com esses olhos que a Terra há de comer, um bando de atuações propositalmente forçadas e personagens propositalmente clichês, alguns efeitos especiais bem vagabundos que parecem dos feitos por iPhone hoje em dia, a velha situação limite entre humanos confinados à beira do apocalipse, e jorros de sangue, dentadas, membros arrancados, jugulares destroçadas, cabeças explodindo e tudo mais, do jeito mais tosco e porra louca possível que o cinema australiano e da Oceania consegue fazer.
Olha, não tem absolutamente nada a se esperar de Canibais, além do escracho. Principalmente nos dias de hoje em que o subgênero zumbi já se banalizou horrores com produções em baciada. É para aqueles que curtem e se divertem com esse tipo de filme, com um final pessimista que traz a velha e boa hecatombe zumbi se descontrolando, um pé ali na ficção-científica de quinta categoria e muito humor negro destilado em situações caricatas.

