May
2002 / EUA / 93 min / Direção: Lucky McKee / Roteiro: Lucky McKee / Produção: Marius Balchunas, Scott Sturgeon; Richard Middleton (Coprodutor) / Eric Koskin, John Veague (Produtores Executivos) / Elenco: Angela Bettis, Jeremy Sisto, Anna Faris, James Duval, Nichole Hiltz, Kevin Gage, Merie Kennedy
May – Obsessão Assassina é mais um daqueles subestimados filmes de terror, pouco conhecido do grande público e que teve o infortúnio de um lançamento porco direto para home vídeo, ignorando um excelente thriller dirigido por um novato Lucky McKee, hoje um dos bons nomes de sua geração.
A velha história da garota esquisita, pária da sociedade, que não possui nenhum amigo, traquejo social ou relacionamentos amorosos, ao melhor estilo Carrie – A Estranha se mistura com o clássico Frankenstein de Mary Shelley e sua ideia de montar pessoas a partir de restos mortais de cadáveres, afinal, como a própria família tresloucada da May, nossa protagonista vivida por Angela Bettis, ensina: “se você não pode achar um amigo… faça um”!
Isso porque a menina nasceu com um grave estrabismo que lhe afastava dos amiguinhos, que praticavam bullying com a garota, obrigando-a a viver sozinha e utilizar um tapa-olho para cobrir seu “olho preguiçoso”, mais uma das excentricidades de sua mãe, que lhe dera de presente a boneca de porcelana Suzy, que fica trancada dentro de uma proteção de vidro, a qual a garotinha vivia costurando vestidos, sendo ela sua única amiga (e com quem conversava também, diga-se de passagem).
Pois bem, May fica mais velha, conserta o problema de ambliopia com uma lente de contato e trabalha em uma clínica veterinária, junto da recepcionista lésbica Polly (interpretada por Anna Faris, mais conhecida pela franquia Todo Mundo em Pânico), que tem uma queda pela garota. Certo dia ela conhece o mecânico Adam Stubs (Jeremy Sisto) por quem se apaixona à primeira vista. Detalhe é que o cara tem sonho em ser cineasta e seu diretor preferido é Dario Argento. Certo momento da fita ele exibe para May em um date um curta que fez onde um casal começa a trocar carinhos em um parque e a paixão é tanta, que o amor se consuma em atos de canibalismo, com os dois devorando pedaços um do outro.

O problema é que May passa então a ficar obcecada por Adam, que obviamente vai dar um pé na bunda da garota por conta do seu comportamento estranho e doentio. Ela se envolve então com Polly, mas que é bem das adeptas do poliamor e também fica com outras garotas e tudo isso vai afrouxando os parafusos da protagonista, até que em uma atividade escolar voluntária com um grupo de crianças cegas, ela leva Suzy para eles conhecerem, que acaba acidentalmente se quebrando.
Pronto, esse é o estopim para que May surte de vez e resolva construir uma “nova” amiga, chamada Amy (anagrama de May) assassinando seus chegados, e até estranhos que encontra na rua, para montar sua versão da criatura de Frankenstein, usando suas habilidades em costura, em operação nos animais e suas noções de anatomia.
McKee apresenta um filme que vai se construindo lentamente, onde você vai acompanhando o drama da personagem de Bettis, que está simplesmente perfeita no papel, com seus problemas sociais, misturando doses certeiras de humor negro com romance, até explodir em seu final bizarríssimo, quando a psicopatia da mulher foge do controle e ela aflora seus instintos assassinos, vítima da sociedade e da criação familiar. Apesar das cenas de matança e gore serem bem contidas, elas são altamente eficazes e interessantes, fazendo com que no final, seja um daqueles filmes que você normalmente não daria nada e se torna uma gratíssima surpresa.
McKee e Angela Bettis criaram uma frutífera parceria desde então, com a moça atuando em outros dois filmes do diretor, A Floresta e The Woman – Nem Todo Monstro Vive na Selva (talvez o pior subtítulo já dado na história do cinema aqui no Brasil, salvo pelo clássico Parenthood – O Tiro Que Não Saiu Pela Culatra), e no episódio dirigido por ele na antologia Mestres do Terror, que recauchuta algumas ideias de May – Obsessão Assassina, tanto da visão do diretor quanto da personagem de Bettis. Vale lembrar também que a atriz, ainda imersa nesse tipo de papel, fez aquela versão HORROROSA de Carrie – A Estranha para a TV no mesmo ano, que lógico, foi sacaneado de acordo no Horrorcast.

