Horrorcast#105 – Zombie Nation (2004)
826 – Halloween – O Início (2007)
Halloween
2007 / EUA / 121 min / Direção: Rob Zombie / Roteiro: Rob Zombie / Produção: Malek Akkad, Andy Gould, Rob Zombie; Patrick Esposito (Produtores Associados); Matthew Stein, Bob Weinstein, Harvey Weinsten (Produtores Executivos) / Elenco: Malcom McDowell, Scout-Taylor Compton, Tyler Mane, Brad Douriff, Sheri Moon Zombie, William Forsythe, Richard Lynch, Udo Kier, Danny Trejo
Eu queria muito saber quem foi a pessoa que deixou Rob Zombie COMETER esse Halloween – O Início. É uma desrespeitosa ofensa sem tamanho com o original de John Carpenter. Impressionante como o roqueiro metido a diretor conseguiu, com sua visão limitadíssima de cinema, transformar um dos grandes clássicos do cinema de terror de todos os tempos, em um mero slasher apelativo, porco, mal escrito e mal dirigido, pegando todos os elementos que transformaram o longa de John Carpenter em uma obra prima, e destruindo-os um por um, apenas para satisfazer uma egolatria sem tamanho.
Quando Halloween – A Noite de Terror chegou aos cinemas em 1978, o tamanho impacto que ele causou no cinema de terror independente norte-americano foi tanto, que a quantidade de filmes inspirados por ele, não foi brincadeira. Carpenter foi o responsável por introduzir Michael Myers, o célebre assassino mascarado classudo no cânone do subgênero, criar as diretrizes e regras dos slasher movies e estabelecer a figura definitiva da Final Girl. Mais que isso, diferente dos demais slashers, principalmente pós-Sexta-Feira 13, Halloween é um filme minimalista, pontuado brilhantemente pela sua trilha sonora, com uma alta dose de tensão e suspense crescente, sem apelações, e a figura de Myers sendo um voyeur que espreita meticulosamente Laurie Strode pelas ruas dos subúrbios de Haddonfield, dotado de uma maldade nata, inumana, completamente frio, calculista e prático em seus ataques comedidos. Chega até a ser um vilão meio blasé.
O Michael Myers de Tyler Mane é uma verdadeira afronta ao personagem. Primeiro que Zombie transforma-o em um White Trash anabolizado, todo bollander, mais ou menos seguindo a mesma linha do que já haviam feito com Leatherface no remake de O Massacre da Serra Elétrica. Exatamente também como a estrutura de personagens que o criativo diretor/ roteirista vem utilizado em todos os seus filmes.

Outro dos pontos mais interessantes de Halloween sem dúvida nenhuma é sua abertura, soturna, claustrofóbica, com o jovem Michael Myers matando sua irmã, usando uma máscara de palhaço, e somos testemunhas oculares do fato nos colocando do POV do garoto, vendo exatamente o que ele vê e ouvindo sua respiração. Quando os pais do garoto chegam em casa e ele retira a máscara, com a faca de cozinha em punho, é uma das mais impactantes visões do cinema de terror, mostrando um garotinho normal, um verdadeiro psicopata infantil, que cometera aquela ato de barbárie.
Aqui Zombie resolve justificar a maldade e a insanidade de Myers, explorando sua clichêzaça infância problemática de uma manjadíssima família disfuncional, onde a mãe é stripper (ADIVINHE INTERPRETADA POR QUEM?), o padrasto é abusivo, a irmã é uma vagabunda e por aí vai, com o moleque interpretado por um péssimo Daeg Faerch, capaz de praticar crueldade com animais, matar o companheiro de escola que pratica bullying à pauladas e depois não apenas matar a irmã, mas também seu namorado e padrasto, só pra aumentar a contagem de cadáveres e satisfazer o tesão do Rob na violência gráfica desnecessária. Daquele medo de gelar a espinha da psicopatia infantil, que o guri tenha nascido com esse “gene ruim”, aqui vira uma justificativa das mais formulaicas.
Depois somos levados à infância de Myers em Smith’s Grove, onde Malcom McDowell faz um igualmente péssimo Dr. Sam Loomis tentando desvendar a mente do garoto, que passa a ter uma obsessão por máscaras (!!!???) e fechando-se cada vez mais em seu mundo psicótico. Talvez esse seja realmente o único momento interessante do filme, apesar de mal construído e completamente superficial, presente do roteiro fraquíssimo de Zombie (que não basta ser diretor, também acha que é roteirista, mas beleza).
Agora, a forma como Michael Myers escapa de Smith’s Grove é simplesmente patética! Chega até ser ridículo um recurso de roteiro tão imbecil ter sido utilizado. Bom, naquela altura do campeonato todo mundo já sabia do perigo que o psicopata degenerado representava, sua ausência de humanidade, compaixão e apreço pela vida alheia – até já tendo cometido outros assassinatos dentro do próprio manicômio. Mas eis que outros dois rednecks que trabalhavam no local tem a BRILHANTE IDEIA de estuprar uma garota catatônica DENTRO DA CELA de Myers, algo completamente, convenhamos, sem a MENOR LÓGICA, e zás, obviamente eles são mortos, o vilão deixa uma trilha de corpos, inclusive do seu suposto amiguinho Danny Trejo, mata médicos, seguranças e escapa. E saber que certa vez o arrogante Zombie fez troça com o fato do assassino no original de Carpenter ter fugido da instituição psiquiátrica dirigindo…

Pois bem, depois disso, todo aquele clima que falei lá em cima de construção do suspense minimalista que tornou Halloween famoso e comedido, não é praticado em nenhum momento, com Myers matando um monte de gente à esmo até chegar na Laurie Strode de Scout-Taylor Compton. Toda a apelação de nudez e violência, sem necessidade, apenas para querer fazer um algo mais brutal e Zombie querer pagar de fodão, colocam o filme na mesma vala comum de todos os slasher movies qualquer nota lotado de clichês e fórmulas prosaicas.
E não, não dá para pensar em Halloween – O Início como uma obra independente, porque ele não é. Trata-se de uma refilmagem, e apesar de tentar fazer seu próprio filme, descolando-se do original, o que convenhamos, seria a atitude certa a tomar, Zombie padece mais uma vez de todos seus vícios de direção que irritam e escancaram sua deficiência técnica atrás da cadeira. E aquela maldita mania de usar câmera tremida nas cenas de ação e de ataque de Myers, além de seus closes sem a menor necessidade, também estão todos lá. Vícios que ele abusou nos outros filmes e parece não ter aprendido a ser um diretor sóbrio, onde às vezes, menos é mais, mesmo tendo tido sucesso em Rejeitados Pelo Diabo.
Zombie sempre quer colocar sua mão “revolucionária” e cheia de empáfia em seus filmes, mas Halloween – O Início é execrável tanto como remake como em qualquer rusga de cinema autoral. É conseguir destruir de todas as formas possíveis um clássico e todos os preceitos e ensinamentos que Carpenter deu ao cinema e ao gênero, apenas pelo excesso de violência gráfica, de sujeira, e de testosterona, o que acaba limitando cada vez mais sua visão cinematográfica de só conseguir fazer um tipo de coisa, e transformar um assassino frio, calculista, pervertido, fetichista e sóbrio, num troncudo bolado cabeludo passivo-agressivo.
Vale também aqui fazer um parêntese sobre a presepada que a PlayArte Pictures fez ao lançar Halloween – O Início nos cinemas, dois anos depois de sua estreia nos EUA, cortando nada menos que VINTE SEIS minutos da projeção, apenas para conseguir uma classificação indicativa de 14 anos e atingir um maior número de salas de exibição, retalhando todo o filme e sua nudez e violência (que eram a ÚNICAS coisas que Zombie tinha a apresentar dentro de sua mediocridade). Foi um verdadeiro ultraje na época, e até hoje, tem gente que boicota lançamentos da distribuidora no cinema por conta disso. Eu já acho que eles (e a Dimension Films) deveriam ter cortado 121 minutos de filme, mas…


HORRORVIEW – Rua Cloverfield 10 (2016)
827 – A Invasora (2007)
À l’intérieur / Inside
2007 / França / 82 min / Direção: Alexandre Bustillo, Julien Maury / Roteiro: Alexandre Bustillo, Julien Maury / Produção: Vérane Frédiani e Franck Ribière, Rodolphe Guglielmi, Fryderyk Ovcaric e Teddy Percherancier (Co-produtores) / Elenco: Béatrice Dalle, Alysson Paradis, Nathalie Roussel, François-Régis Marchasson
Quando eu li que os diretores de A Invasora, os franceses Alexandre Bustillo e Julien Maury desistiram de dirigir o remake que Hollywood preparava de Hellraiser – Renascido do Inferno porque acharam o roteiro palha, eu descobri que precisava muito assistir ao primeiro filme deles. E me arrependi amargamente de não ter visto antes, porque é um dos filmes mais tensos e explicitamente violentos que já vi nos últimos anos.
A Invasora é mais uma grata revelação do gore francês. E bota gore nisso. Os diretores estreantes não poupam cenas de extrema violência para contar sua história claustrofóbica de uma solitária garota grávida, na noite da véspera do Natal, sozinha em uma casa silenciosa em uma rua deserta. Por si só já encontramos vários elementos de meter medo aí e nos deixar roendo as unhas.
Sarah é uma fotografa, grávida, que logo nos primeiros minutos do filme se envolve em um terrível acidente de carro que tira a vida de seu marido que estava no banco do passageiro. Felizmente (ou infelizmente, sei lá), nada acontece a ela e seu bebê (que aparece em várias cenas do filme em closes do interior do ventre da mãe, passando por todos os mesmos apuros que ela e escancarando toda sua fragilidade). Passado algum tempo, com a gestação quase completa, uma deprimida e desmotivada Sarah decide passar a noite da véspera do Natal sozinha em sua casa (coincidentemente de número 666) antes de ser internada na manhã seguinte para começar o trabalho de parto.
É aí que conhecemos a tal invasora, uma mulher morena vestida com um longo vestido preto e expressão vazia e sádica, que faz uma visita à Sarah tarde da noite e parece saber tudo ao seu respeito. Sarah desesperada chama a polícia, não antes da estranha desaparecer. A polícia não encontra nada e promete voltar mais tarde durante sua ronda noturna. Nesse ínterim, a estranha consegue entrar dentro da casa de Sarah, e aí que uma espiral de adrenalina, sangue, mortes e pavor começa a acontecer, tudo fechado naquele metro quadrado.

Com uma atmosfera tensa, uma verdadeira carnificina rola solta, com a invasora tentando matar a fotógrafa, perseguindo-a nos aposentos e executando qualquer um que apareça na casa para tentar impedi-la de completar seu maligno e visceral plano que vai nos ser revelado mais adiante, junto com suas motivações, e finaliza com uma cena tão impactante e tão forte que ao mesmo tempo que causa repulsa, você simplesmente não consegue desviar o olho da tela.
Olha vou ser sincero com vocês, eu nunca em todos meus 30 anos de vida, vi uma personagem feminina tão sádica e tão marcante quanto a estranha interpretada soberbamente por Béatrice Dalle. Assim, sua presença no longa e sua crueldade para mim a coloca no patamar dos grande serial killers do cinema como Leatherface, Michael Myers ou Jason Voohrees. Uma atuação extremamente forte que cria um excitante contraponto com a grávida e fragilizada Sarah, interpretada por Alysson Paradis, que claro, levará seu instinto de sobrevivência as últimas consequências para protegê-la e ao bebê em seu útero.
O filme é dirigido com verdadeira maestria. Os primeiros trinta minutos são angustiantes, preparando terreno para o que está por vir. Dali para frente é apelação, na boa. Prepare seu estômago para todo tipo de mutilação e litros e litros de sangue sendo derramados, com uma maquiagem mega realista. Fora isso, vale ressaltar a edição, vezes arrastada, vezes alucinada e uma trilha sonora eletrônica repleta de ruídos e elementos distorcidos. E mesmo que, como de costume do cinema de terror, o nervoso e o gore cheguem até a provocar riso, definitivamente essa nunca é a intenção e todo o desenrolar, e principalmente as mortes, são muito bem executados pelos diretores que não parecem nem um pouco novatos.
A Invaosra não é recomendado para aqueles que tem coração e estômago fraco. E muito menos para mulheres grávidas.


Veja o trailer de The Neon Demon
Novo filme de terror de Nicolas Winding Refn, diretor de Drive, está na seleção oficial do Festival de Cannes
Finalmente saiu o trailer aguardadíssimo de The Neon Demon, novo filme de terror do dinamarquês Nicolas Winding Refn, o mesmo de Drive e Só Deus Perdoa.
Com Ellie Fanning e Keanu Reaves no elenco, a trama traz a jovem modelo aspirante, Jesse, que muda-se para Los Angeles, e sua vitalidade e juventude são devorados por um grupo de mulheres obcecadas pela beleza que farão todo o possível para conseguir o que ela tem.
O longa está na seleção oficial do Festival de Cannes, onde acontecerá sua premiére.
Confira aí embaixo o desbunde estético no trailer. E mais alguém aí pensou de cara em Suspiria?

828 – Jogos Mortais 4 (2007)
Saw IV
2007 / EUA, Canadá / 93 min / Direção: Darren Lynn Bousman / Roteiro: Patrick Melton, Marcus Dunstan / Produção: Mark Burg, Gregg Hoffman, Oren Koules; Greg Copeland (Coprodutor); Troy Begnaud (Produtor Associado); Peter Block, Jason Constantine, Stacey Testro, James Wan, Leigh Whannell (Produtores Executivos) / Elenco: Tobin Bell, Costas Mandylor, Scott Patterson, Betsy Russell, Lyriq Bent, Athena Karkanis, Louis Ferreira
Foi daqui pra frente que a franquia Jogos Mortais virou Brasil e confirmou aquela presepada de lançar uma sequência atrás da outra, e uma pior que a outra, todo ano, até espremer o bagaço da laranja do Jigsaw. O sujeito já tinha batido as botas em Jogos Mortais 3, e ainda assim não deixaram o pobre John Kramer descansar em paz.
Além disso, Jogos Mortais 4 é o primeiro que não tem envolvimento direto de Leigh Whannel e James Wan na história/ roteiro, apenas lá cumprindo tabela como produtores executivos, e também é o último que Darren Lynn Bousman dirige, terceiro na sequência.
Mas Bousman na verdade havia recusado de prima, mas decidiu, por insistência dos produtores, que daria uma lida no roteiro mesmo assim. O sujeito topou dirigi-lo quando o plot twist do roteiro o deixou completamente surpreso, algo que ele achava impossível depois de estar envolvido nos três Jogos Mortais anteriores.

Mas convenhamos, nem é para tanto vai. Bacana, tem lá uma reviravolta no final (bem como TODO OS JOGOS MORTAIS) que é das mais capengas, apenas para continuar sugando qualquer coisa que a franquia tenha a oferecer, e dar um jeitinho de estendê-la, mesmo com Jigsaw já comendo capim pela raiz no último filme (neste ele aparece todo em flashback, tirando a cena inicial da autópsia) e introduzir um novo cúmplice nunca dantes revelado, que na verdade não era Amanda Young, passando o protagonismo do assassino e o sujeito que bolou todas as armadilhas desse quarto filme (e contando).
Aliás, nessa altura do campeonato (e vai piorar ainda mais, sabemos) chegamos naquele ponto em que as mortes de Jogos Mortais seguem o mesmo fatídico caminho dos filmes slasher, tentando ser uma mais violenta, criativa e espetaculosa que a outra e sempre toda cheia das mais absurdas traquitanas para ser construídas. Realmente o John Kramer era um PUTA ENGENHEIRO, e sabemos que parecia não ter muito mais o que fazer da vida, uma pia de louça suja para lavar, e por aí vai.
A trama se passa na mesma timeline do anterior (o que vamos nos ligar mesmo somente no final do filme, quando ele vai fazer sua conexão com os acontecidos da morte de Jigsaw e as armadilhas preparadas para a médica Lynn Denlon e seu marido Jeff) – mesmo com aquele começo da autópsia, um dos momentos mais gráficos e nauseantes da cinesérie – e vai seguir principalmente o tenente Daniel Rigg (Lyriq Bent), que foi pego em uma armadilha de Kramer que irá mexer com seu psicológico, enraivecido após a morte da oficial Kerry e do desaparecimento do detetive Matthews (O ex-New Kids On The Block Donnie Wahlberg).

Em paralelo a isso, seremos apresentados ao passado de Kramer e sua relação com a esposa, Jill Tuck (Betsy Russell), e também ao trágico destino que liga Matthews, refém em uma armadilha preste a morrer, e o também recém raptado tenente Hoffman (Costas Mandylor), além e outros dois agentes que procuram por Rigg que sai que nem uma vaca louca sozinho atrás de Jigsaw, Strahm (Scott Patterson) e Perez (Athena Karaknis).
Todo esse jogo de gato e rato, as armadilhas, as pistas e o jeito como o filme é construído chegam ao terceiro ato colocando tudo junto e misturado, elucidando as motivações de Kramer, que vão além do câncer diagnosticado em seu cérebro e o acidente de carro que quase lhe tirou a vida, para BANG, rolar o tal do plot twist que deixou Bousman a fim de dirigir essa quarta parte.
Acontece que Jogos Mortais 4 caiu em uma vala comum, já perdeu todo a originalidade quando James Wan e Leigh Whannel criaram o primeiro, em 2004, e daí foi sendo lançado todo maldito Dia das Bruxas. Mas até o terceiro deu jogo, daqui pra frente, tornou-se dispensável e uma cópia sem qualidade de si mesmo. Esse inclusive foi o último que vi no cinema, ainda não por minha livre e espontânea vontade, mas acompanhando uma pessoa que queria muito assistir e era fã da saga. Depois desse, eu literalmente, desisti de Jigsaw e suas quase infinitas continuações.


HANGOUT DO 101HM – S01E06: Remakes
829 – A Maldição do Rio (2007)
Kaidan
2007 / Japão / 115 min / Direção: Hideo Nakata / Roteiro: Satoko Okudera (baseado em uma história de Enchô San’yûtei) / Produção: Takachige Ichise; Jun’ichi Sakomoto (Produtor Executivo) / Elenco: Kumiko Asô, Takaaki Enoki, Leona Hirota, Teisui Ichiryûsai, Mao Inoue, Tae Kimura
A Maldição do Rio é o melhor filme do projeto J-Horror Theatre, hexalogia dirigida por diversos nomes do terror japonês e produzida por Takashige Ichise (uma espécie de Jason Blum nipônico), e que é daquelas provas cabais de como asiático SE FODE quando faz alguma merda e será a vida toda atormentado por um espírito rancoroso que virá lhe assombrar pela sua cagada.
Dirigido impecavelmente por Hideo Nakata, sim, o mesmo de Ring – O Chamado e Dark Water – Água Negra, ambos também produzidos por Ichise, A Maldição do Rio é um verdadeiro mix do cinema japonês, misturando elementos do típico horror com um fantasma vingativo, filme de samurai, o teatro kabuki e uma trama com toques de drama, ciúme e sobrenatural.
Passado no Japão feudal do Século XIX, tirando o longa do lugar comum dos tempos atuais e o subtexto do J-Horror como uma metáfora da dicotomia dos japoneses entre a tradição e a tecnologia, A Maldição do Rio nos leva de volta ao tempo do cinema de horror clássico nipônico, que possui excelentes exemplos como As Quatro Faces do Medo, Onibaba – A Mulher Demônio ou O Gato Preto.

Na trama, Soetsu é um acupunturista que vai juntando um dinheiro e torna-se um agiota e passa a emprestar grana para as pessoas cobrando um valor exorbitante de juros. Certa vez ele faz um empréstimo para o samurai Fukami, três anos se passam, e ao cobrar a dívida, a samurai o mata e joga seu corpo em um rio, onde os cadáveres desaparecem e não voltam mais para a superfície.
Mas claro que antes de morrer, Soetsu roga uma praga em Fukami, o amaldiçoa, fazendo com que num ato de loucura ele acabe matando sua esposa, deixando suas duas filhas pequenas órfãs, Oshiga e Osono. Passam-se 25 anos e o filho de Fukami, Shinkichi, um vendedor de tabaco, conhece Oshiga, que é professora de canto na província de Edo, mais velha que ele, e ambos se apaixonam, com a moça passando a sustentar o chupim. Só que Shinkichi acaba se enrabichando com uma das suas alunas, Oisa, e ele decide deixar Oshiga e se mudar com a ninfeta para sua terra natal.
Rola uma briga feita e Shinkichi acaba cortando o rosto da moça, que pega uma infecção que começa a necrosar. Oshiga morre sozinha, mas antes ela amaldiçoa o escroque, prometendo que irá assombrá-lo para o resto da vida e levará para o túmulo qualquer mulher que ele ame. A segunda metade do filme é o desgraçado comendo o pão que o diabo amassou, sendo atormentando pelo espírito rancoroso e vingativo de Oshiga, e fazendo merda atrás de merda, incluindo aí o assassinato de Oisa estrangulada, ludibriado pelo fantasma, e se envolvendo com a jovem, Orui, com quem tem um filho, e que trata ambos como lixo.

A vida de Shinkichi se torna um ciclo desgracento, com o maluco fazendo um monte de presepada e sempre com o fantasma da falecida que lhe rogou a maldição aparecendo constantemente, até o final, que logo quando começa a história toda sabemos que não vai ser bonito. Tudo isso contado de forma poética por Nakata, com um belo trabalho de câmera, ângulos e movimentos suaves e fluídos, alguns momentos de terror, drama e ação com briga de samurai, e todo um design de produção e ambientação de época incrível, que parece muito mais uma peça de teatro, com seus cenários estáticos construídos misturados com belas locações, e uma trilha sonora das mais chorosas.
O nome original, Kaidan, que significa “história de fantasma”, é o mesmo de As Quatro Faces do Medo de 1964, dirigido por Masaki Kobayashi, mas não se trata nem de um remake e nem de uma das histórias da antologia recontada por Nakata. A inspiração para o filme é o conto sobrenatural Shinkei Kasanegafuchi de Enchô San’yûtei, escrita por Satoko Okudera.
A Maldição do Rio chegou até a ser lançado no Brasil em DVD, aproveitando a época que muito do horror oriental chegava por aqui por conta do sucesso do J-Horror por essas bandas, é um excelente filme, mas que definitivamente vai desagradar bastante quem espera um terror japonês convencional e aqueles que procurem jumpscare e ação sobrenatural.


Horrorcast#106 – O Monstro que Desafiou o Mundo (1957)
Detalhes e primeiras imagens de Death House,”Os Mercenários” do terror!
Filme que juntará alguns dos maiores ícones do gênero tem informações sobre sua trama reveladas, inclusive, que será inspirado em Lovecraft e Dante (???!!!)
Lembra quando a gente noticiou aqui que estava em realização um filme chamado Death House, que logo foi considerado como “Os Mercenários” do horror, por juntar em seu elenco algum dos maiores ícones do gênero, como Robert Englund, Kane Hodder, Tony Todd, Bill Moseley, Sid Haig, Gunnar Hansen, Dee Wallace, Barbara Crampton, e uma série de cameos surpresa?
Pois bem, foram revelados alguns detalhes sobre sua trama, por meio do press release oficial, incluindo aí a curiosidade de que ele será inspirado na obra de Lovecraft (???!!!) e Dante (???!!!) e saíram as primeiras imagens.
Na trama, dois agentes federais lutam para tentar escapar dos nove níveis do inferno dentro de uma prisão secreta conhecida como Death House, onde ocorre uma rebelião e eles passarão por um tour de horrores enquanto são empurrados em direção ao mal definitivo que vive nos mais profundos confins da Terra.
O filme, produzido por Rick Finkelstein e Steve Chase, da Entertainment Factory está prestes a começar sua fotografia principal na Filadélfia, e será dirigido por B. Harrison Smith, que também escreveu o roteiro baseado em uma história do falecido Gunnar Hansen, o Leatheface de O Massacre da Serra Elétrica de Tobe Hooper.
O filme NÃO é um mashup de monstros e personagens icônicos, e a história original é inspirada por H.P. Lovecraft e Dante Alighieri, que gira em torno dos agentes Cody Longo (Piranha 3D) e Cortney Palm (Zombeavers). Os efeitos práticos são de Roy Knyrim, da SOTA FX (Deuses e Monstros, Ed Wood).
Abaixo, você já confere uma galeria com as primeiras fotos e imagens, com Kane Hooder, Dee Wallace, os agentes federais, Barabra Crampton e um prisioneiro em uma máquina que lembra (inclusive a cor) o filme Do Além que ela estrela, a equipe da SWAT e mais uma moça fazendo cosplay de Leatheface. E fiquei ligado no 101HM para novidades.
O lançamento está programado para o final de 2016 ou começo de 2017, dependendo da agenda de distribuição.
Clique para exibir o slide.

830 – Medo Profundo (2007)
Black Water
2007 / Austrália / 90 min / Direção: David Nerlich, Andrew Traucki / Roteiro: David Nerlich, Andrew Traucki / Produção: David Nerlich, Andre Traucki, Michael Robertosn; Paul Cowan, Chris Wheeldon (Coprodutores); Michelle Harrison, Germaine McCormack-Kos, Gary Rogers (Produtores Executivos) / Elenco: Diana Glenn, Maeve Dermody, Andy Rodoreda, Ben Oxenbould, Fiona Press
A Austrália é um país que é um prato cheio para eco-horror sobre sua fauna selvagem em um ambiente inóspito. E com certeza, o crocodilo é um dos animais perfeitos para ilustrar esse tipo de filme quando se passa nas terras do canguru. Medo Profundo é um desses exemplares.
Porém, há aqui um detalhe que faz com que o longa difira dos demais do subgênero, ainda mais se pensarmos que 2007 foi o ano dos crocodilos nas telas do cinema (por conta do também Australiano Morte Súbita e de Primitivo, esse se passando na África, ambas produções americanas). Medo Profundo é muito mais um thriller psicológico que qualquer outra coisa.
Completamente independente (diferente dos dois exemplos acima), feito com a merreca de 700 mil dólares australianos, sabemos que os cineastas não teriam grana para construir um animatrônico de crocodilo ou fazê-lo em CGI, pois correriam o risco de transformá-lo em uma criatura digna da The Asylum ou então, aqueles crocodilos toscões do Sérgio Martino ou do Tobe Hooper.
A ideia então qual foi? Mostrar minimamente o réptil anfíbio e se concentrar no drama de sobrevivência de três turistas, a grávida Grace (Diana Glenn), seu namorado, Adam (Andy Rododera), e sua irmã, Lee (Maeve Dermody), que durante uma viagem de férias alugam um barco para pescar nos pântanos australianos, tendo Jim (Ben Oxenbould) como guia, e acabam adentrando o território de um crocodilo desgarrado, que irá defendê-los com, hã, cauda e dentes.

O bicho vira o barco, devora Jim logo de prima – o único que tinha uma arma – e os três sobreviventes ficam presos em cima de uma árvore, enquanto o crocodilo mantém-se ali a espreita (remetendo uma canção de ninar local, sobre três macacos atazanando um crocodilo que não poderia alcança-los). O tempo vai passando, nenhuma ajuda parece estar a caminho, os conflitos humanos começam a aparecer, além de outros problemas como desidratação e picadas de mosquitos, e a única saída é eles tentarem virar o barco novamente para fugir dali.
Bom, esse tipo de filme survival horror geralmente reserva um final não dos mais felizes, pelo menos para a grande maioria dos envolvidos. Aqui, são apenas três atores durante 90 de projeção, presos em um único ambiente, o que já é uma tarefa hercúlea conseguir manter e desenvolver uma trama, mas o crocodilo que é bom, é visto pouquíssimas vezes, com o mínimo uso de CGI e de efeitos práticos, mas que soa bastante ameaçador quando coloca sua gigantesca cabeça para fora da água.
Os ataques não são lá dos mais críveis e quase nada sanguinários, inclusive a violenta investida contra Adam e mais tarde, contra Grace, que deveria ter sido destroçada, mas apenas tem lacerações profundas na perna que causa uma hemorragia. O lance mesmo de Medo Profundo é ater-se ao psicológico, a situação de tensão, desolação e claro, o medo primal da insignificância do homem ao ter de enfrentar a natureza selvagem. O crocodilo não é um vilão, apenas segue seu instinto e defende seu território, como reza a lei da selva.
Por conta do seu ritmo lento imposto pelos diretores David Nerlich e Andrew Traucki (também responsável pelo roteiro, assustadoramente baseado em fatos reais), falta de ação, baixo orçamento, atuação discreta do réptil que seria o personagem principal e do amadorismo dos atores, Medo Profundo acaba em um resultado cansativo, sendo entediante em uma boa parte da metragem, mesmo clara a ideia, dentro de suas limitações, de se calcar muito mais em um trhiller psicológico que um eco-horror sanguinolento de praxe. Aliás, Traucki voltaria ao subgênero em 2010 dirigindo Perigo em Alto Mar, dessa vez tendo um grande tubarão branco como ameaça a um grupo de mergulhadores perdido em mar aberto, e também dirigiria um dos segmentos de O ABC da Morte.


HORRORVIEW – Baskin (2015)
831 – Morte Súbita (2007)
Rogue
2007 / Austrália, EUA, Reino Unido / 99 min / Direção: Greg McLean / Roteiro: Greg McLean / Produção: Matt Hearn, David Lightfoot, Greg McLean; Robert Kirby, Joel Pearlman; Bob Weinstein, Harvey Weinstein (Produtores Executivos) / Elenco: Radha Mitchell, Michael Vartan, Sam Worthington, Caroline Brazier, Stephen Curry, Celia Ireland, John Jarratt
Pois é, parece que 2007 foi o “ano de eco-horror sobre crocodilos”. E Morte Súbita, que NÃO É AQUELE FILME DO VAN DAMME, é melhor do que seu irmão réptil australiano, Medo Profundo, também conhecido como nosso post de ontem.
Do mesmo diretor de Wolf Creek – Viagem ao Inferno, que dessa vez, coloca incautos turistas frente com outra ameaça no outback australiano: não um psicopata, mas sim, um gigante crocodilo desgarrado territorialista que resolve comer um por um daqueles que invade seu pedacinho de rio.
Produção entre Austrália, EUA e Reino Unido, com dedo da Dimension Films dos irmãos Weinstein e a Village Roadshow, que distribuíra Wolf Creek nos EUA e ganhara uma bela grana por causa disso, o ozploitation é aquele tipo de eco-horror para fã nenhum botar defeito. Lotado de suspense, ação, uma criatura absurdamente mortal, uso decente de CGI e efeitos práticos e claro, evocando os ensinamentos de Steven Spielberg, onde nunca é mostrado o animal em sua totalidade até chegar pelo menos próximo do terceiro ato.

Fora isso, o diretor Greg McLean, que também escreveu o roteiro, brinca muito bem com seus personagens, colocando um grupo de turistas díspares no meio e uma situação limítrofe de vida ou morte, encarando uma força da natureza incontrolável, fazendo florescer os mais diversos tipos de sentimentos que só momentos tensos como esses são capazes, que vai do egoísmo ao altruísmo, de atitudes covardes a heroicas. E ambas custam vidas! YEAH!
Radha Mithcell é Kate Ryan, a guia turístico e capitã do barco que viaja pelas águas do Parque Nacional de Kakadu, no meio do calor insuportável de uma erma região australiana, que após mais um dia mostrando as belezas naturais aos turistas, vê um chamado de socorro e resolve subir o rio para tentar ajudar quem quer que estivesse em perigo, encontrando apenas um barco virado.
Logo, o crocodilo gigantesco desgarrado que vive ali naquele território também os ataca, uma vez que eles invadiram seu covil e lá ele reina soberano e absoluto, afunda seu barco e ela, junto dos demais turistas e o repórter americano Pete Mckell (Michael Vartan) que estava escrevendo um artigo para uma revista de turismo, ficam presos em uma ilhota que vai sendo alagada conforme o cair da noite e o aumento da água, já que é uma região de junção entre o rio e o oceano, precisando arrumar uma forma de sobreviver e sair de lá sem virar jantar de crocodilo, e resolver também as tretas entre si.

Também vale mencionar o papel de Sam Worthington como Neil Kelly, que começa sendo o macho-alfa babaca, caipira australiano que não soube levar um fora de Kate e age como tal troglodita da espécie, mas depois tem o papel invertido para o sujeito que pensa no grupo para tentar salva o dia (ainda assim querendo ser o macho-alfa). Aliás, em todo momento McLean de forma brilhante gosta de subverter a ordem natural dos personagens e suas atitudes.
Agora claro que o DA HORA mesmo é o crocodilo, seus ataques violentos, as mortes sem piedade daqueles humanos que se meteram no lugar errado, os nacos de carne que ele arranca, e sua aterradora postura física e corporal, com um excelente trabalho de animatrônico e efeitos visuais da John Cox’s Creature Workshop, responsável pelo monstro sul-coreano de O Hospedeiro e as criaturas de Eclipse Mortal, além de, claro, se estamos falando da Austrália, Babe – O Porquinho Atrapalhado e… Crocodilo Dundee!!!!
Mas o melhor de tudo em Morte Súbita é realmente ver a seriedade que um eco-horror é tratado, ainda mais em tempos que só vemos filmes de ataques animais vindos do SyFy e da produtora The Asylum, geralmente trash até a medula, com CGI porco e quase sempre, envolvendo tubarões.


TOPE NOVE – Eco-horror
Quando a fauna mostra suas garras, dentes, patas, presas, bicos, caudas, e por aí vai, e toca o terror nos indefesos e incautos seres humanos, tomando seu lugar no topo da cadeia alimentar, certeza que merece um TOPE NOVE!
9) Razorback – As Garras do Terror (1984)
Um JAVALI (isso mesmo que você leu) assassino no meio do outback australiano. Precisa dizer mais sobre esse clássico dos clássicos do Ozploitation do mesmo diretor de Highlander?

8) Shakma – A Fúria Assassina (1990)
Suprassumo do Cine Trash da Band. Um bando de nerds vê sua partida de RPG live action virar uma luta pela sobrevivência contra um TERRÍVEL BABUÍNO psicopata.

7) Orca – A Baleia Assassina (1977)
Dino de Laurentiis quis mostrar que um tubarão é pouco, e que uma orca, essa essa sim é a criatura fodona do mar. Ainda mais quando ela quer se vingar do pescador que matou sua família. Sessão da Tarde feelings!

6) Alligator – O Jacaré Gigante (1980)
Melhor filme de jacaré e afins! E que me desculpem Tobe Hooper e Sergio Martino. Nesse ícone da Sessão das Dez, um bebê jacaré é jogado no esgoto, se alimenta de cachorros cobaias com hormônio de crescimento e vira um réptil gigante que sai pela cidade causando.

5) Piranha 3D (2010)
Alexandre Aja pegou a tosqueira de Roger Corman, refilmou e transformou em um dos mais sangrentos, escrachados, divertidos e nada pudicos eco-horror dos últimos tempos!

Quem não teve medo de aranha com esse filme, produção de Steven Spielberg, em suas reprises infinitas na Tela Quente ou na Sessão da Tarde, nem merece papo comigo…

Stephen King pegou um simpático e bonachão São Bernardo, lhe deu uma dose de raiva transmitida por uma picada de morcego, e transformou o cão em um stalker serial killer num filme tenso e claustrofóbico que só ele.

Hitchcock foi lacrador e em plenos anos 60, mandou uma revoada de aves bicar os seres humanos até a morte, num claro recado – sem nenhuma explicação – da natureza se revoltando contra os abusos.

O hors concours dos ataques animais nas telonas. O grande branco de Spielberg fez escola, gerando uma quantidade infindável de rip offs, tornou-se o primeiro blockbuster do cinema, um clássico absoluto e é o filme da minha vida, ponto.


Horrorcast#107 – Acampamento Sinistro (1983)
832 – O Nevoeiro (2007)
The Mist
2007 / EUA / 126 min / Direção: Frank Darabont / Roteiro: Frank Darabont (baseado no conto de Stephen King) / Produção: Frank Darabont, Liz Glotzer; Anna Garduno, Denise M. Huth, Randi Richmond (Coprodutores); Richard Saperstein, Bob Weinstein, Harvey Weinstein (Produtores Executivos) / Elenco: Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Laurie Holden, Andre Braugher, Toby Jones, William Sandler, Jeffrey DeMunn
Em tempos aonde a notícia é que o canal Spike TV (????) deu luz verde para a produção da série de TV baseada na obra de Stephen King, é sempre bom revisitar, mais uma vez, essa gema que é O Nevoeiro, indubitavelmente um dos melhores filmes adaptados do escritor do Maine.
Aliás, até hoje, não importa se você, como eu, tenha visto duzentas vezes – sendo a primeira delas do cinema – aquele final… Ah, aquele final? Faz você se sentir sem mãe todas em todas as ocasiões, com um sentimento horrível, desolador, garganta seca, pernas bambas, pelo dos braços eriçados. Um dos finais mais controversos, niilistas, soco do estômago da história do cinema, liberdade poética do diretor Frank Darabont, superior ao final do conto – dos melhores do início de carreira de King – enxertado na coletânea “Tripulação de Esqueletos”.
Darabont sempre foi um cara que manja de adaptar uma obra de Stephen King para as telas, tanto que essa é a sua terceira empreitada, porém a primeira vez que ele resolveu meter a mão num filme de terror genuíno e não em um drama de presídio, como os anteriores: Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre. E o cara mandou muito, dosando perfeitamente o suspense crescente, morte e sangue a valer, o estopim da tensão humana, criaturas dimensionais que deixariam H.P. Lovecraft orgulhoso e claro, o fanatismo fundamentalista religioso vindo de uma Marcia Gay Harden em uma atuação digna de um Oscar®.

Aliás, a beata-mor Sra. Carmody, uma fiel devota das leis e punições do Deus raivoso e assassino do Antigo Testamento, é a verdadeira vilã de O Nevoeiro. Esqueçam os monstros, que só estão ali por conta de uma experiência mal sucedida dos militares tentando viajar por outras dimensões (e abrindo um portal que trouxe para nossa realidade criaturas inomináveis, como se saída dos delírios mais febris de Lovecraft, a grande inspiração de Stephen King). O medo, o fundamentalismo extremo e o poder de manipulação de pessoas incautas, ignorantes e aterrorizadas em nome de uma fé que exige expiação e sacrifício, é de assustar para valer.
King é mestre nisso: colocar pessoas comuns e díspares em situações sobrenaturais, de provação e extraordinárias. O Nevoeiro eleva esse conceito à enésima potência, muito por conta da competência de Darabont em contar essa história e a forma como filmá-la, e a sóbria atuação de todos os envolvidos (quem gosta de The Walking Dead vai perceber que muito ator preso naquele supermercado está nas primeiras temporadas da série, que foi desenvolvida para TV por Darabont). Até mesmo Thomas Jane, que é um ator do terceiro escalão – e fez aquele Justiceiro tosco, diga-se de passagem – está bem na película.
Jane é David Drayton, um sujeito que faz a arte de pôsteres de filmes (no começo podemos ver em seu ateliê um pôster que remete a ilustração de O Enigma de Outro Mundo, de John Carpenter e do Pistoleiro de A Torre Negra, de King – que só AGORA vai ganhar os cinemas) e durante uma noite de tempestade que atinge Castle Rock (sempre, ela), a árvore do vizinho cai e destrói sua janela, invadindo a casa. O lance é que ele e o vizinho, Brent Norton (Andre Braugher), não se dão nada bem, já rolou um processo entre eles, e tudo mais.
Ambos e mais o filho pequeno de David, Billy (Nathan Gamble) vão ao supermercado na manhã seguinte comprar mantimentos, passam por um comboio de militares indo na direção contrária, e encontram quase que a cidade toda ali, assustada após a tempestade. Não mais que de repente, soa um alarme e a cidade é tomada por um misterioso nevoeiro, que traz consigo essas terríveis criaturas dimensionais das mais diversas espécies e tamanhos, e aquele grupo de pessoas fica preso no local, junto da doida Sra. Darmody, da professora Amanda Dunfrey (Laurie Holden) e do funcionário do mercado, Ollie (interpretado pelo sempre ótimo Toby Jones).

Como disse lá em cima, além de tentar sobreviver aos ataques dos monstros, há todo um clima de cisma e paranoia entre os enclausurados, como o manual de regras da situação limítrofe manda, e o perigo, além de monstros alados, moscas mutantes com picadas mortais, criaturas gigantes com tentáculos e aranhas anabolizadas que soltam teias ácidas, é o grupo religioso capitaneado pela Sra. Darmody que não vê nenhum problema em sacrificar homens, mulheres ou crianças para aplacar a ira de um Todo Poderso que mandou aquelas criaturas para acabar com os ímpios e aqueles que zombaram de seu poder durante tantos anos e, diga-se de passagem, tentaram, por meio da ciência, brincar de Deus.
A escalda de tensão é tão sufocante que ao chegar em seu absurdo clímax, onde a única forma de sobreviver é sair do supermercado e encarar aquelas criaturas terríveis (incluindo aí um quase colossal Cthulhu) ao invés dos monstros humanos, Darabont e todos os envolvidos fecham O Nevoeiro da forma mais desgraçada possível, que instantaneamente o tornou um clássico pós-moderno e IRREFUTÁVEL do horror, traduzindo da forma mais sinestésica possível o impacto de uma cena final deprimente, que permeava uma única e drástica solução (mas que se mostra completamente errada em questão de segundos depois, e aí reside todo o seu poder) e a lamúria da música “The Host of Seraphin” de Mark Isham do Dead Can Dance, acentuada ainda mais pela escolha de Darabont que durante todo o filme preferiu o uso mínimo de trilha sonora, até para causar esse baque maior.
O Nevoeiro é, para se falar de boca cheia, uma obra-prima do terror em todos os aspectos em que se é possível assustar alguém para valer. O tipo de sensação que ele causa, durante todo seu desenrolar até seu terceiro ato e a conclusão, é o sentimento mais genuíno que o cinema de horror pede, e que seus fãs merecem. Ficção científica da boa, drama humano, questões de fé, filosofia, ciência, escolhas, desespero, perda de esperança e encarar as causas e consequências de suas decisões. E principalmente, te coloca, sem pedir licença, na pele de David Drayton e compartilha contigo o seu sofrimento, sem a menor piedade.
E vou terminando esse texto agora mesmo, pois já estou deprimido escutando “The Host of Seraphin” enquanto escrevo e me lembrando daquele final…


Veja o trailer da adaptação de Celular, de Stephen King
Filme apocalíptico terá John Cusack e Samuel L. Jackson no elenco e será lançando direto em VOD em 10 de junho
Celular, baseado no livro de Stephen King, ganhou seu primeiro trailer.
Dirigido por Tod Williams (Atividade Paranormal 2) e com John Cusack e Samuel L. Jackson no elenco (ambos já estrelaram juntos em uma adaptação de King, 1408), o roteiro foi escrito por Adam Alleca (A Última Casa) e o próprio escritor.
O lançamento está previsto para 10 de junho em VOD, com exibição limitada nos cinemas em 08 de julho, nos EUA.
Na trama, Clay (Cusack) é testemunha de uma situação caótica quando um sinal eletrônico transforma centenas de usuários de celular em uma hecatombe de assassinos raivosos. Desesperado em encontrar sua esposa e filho, Clay se junta a um taxista (Jackson) para combater uma horde de “infectados” enquanto a cidade caminha para um apocalipse de loucura.
O trailer você dá o play aí abaixo.

HORRORVIEW – Hush – A Morte Ouve (2016)
Cena deletada de A Hora do Pesadelo revela irmão/irmã de Nancy
Conversa entre a personagem de Heather Langenkamp e sua mãe altera a relação de sua família com Freddy Krueger no clássico de Wes Craven
Uma cena deletada de A Hora do Pesadelo, de Wes Craven, ripada dos extras de um antigo relançamento em Laser Disc e VHS, ressurgiu na Internet recentemente revelando que Nancy Thompson tinha uma irmã ou irmão, excluído do corte original.
Na cena em que a personagem de Heather Langenkamp está no porão conversando com sua mãe, Marge (Ronee Blakely) e ela conta sobre a justiça feita com as próprias mãos ao assassino pedófilo, a mesma revela que ela teve outro filho, mais velho, que Nancy nunca conhecera, e que ele(a) foi morto(a) por Krueger, que fez o mesmo com os irmãos de Glen, Rod e Tina, conferindo um motivo ainda maior para a perseguição e morte de Freddy por parte dos Thompson.
Apesar da cena estar no YouTube desde 2010, pelo menos, muita gente não deu importância para isso, ou nem sabia do conhecimento da mesma, até reaparecer em uma reportagem publicada no começo da semana no Bloody Disgusting
Para quem ainda não viu, a cena está aí embaixo:

833 – O Orfanato (2007)
El orfanato / The Orphanage
2007 / Espanha, México / 105 min / Direção: Juan Antonio Bayona / Roteiro: Sergio G. Sánchez / Produção: Álvaro Augustín, Joaquim Padró, Mar Targarona, Belén Atienza e Elena Manrique (Linha de Produção), Guillermo Del Toro (Produtor Executivo) / Elenco: Belén Rueda, Fernando Cayo, Roger Príncep, Mabel Rivera
Um dos principais detalhes que pode até passar desapercebido nos leitores do blog, mas eu espero que não, é a internacionalização, se é que podemos chamar assim, do gênero de terror nesse novo século. Sempre houve produções importantes em diversos países, isso é inquestionável. Mas nessa última década, a globalização do horror atingiu novos patamares, arrancando o controle quase absoluto do cinema americano e nos mostrando verdadeiras obras criativas vindas de outros cantos do planeta, e muito melhores que as hollywoodianas, que se contentaram com remakes e histórias requentadas. Esse é o caso da produção mexicana-espanhola O Orfanato.
Produzido por Guillermo Del Toro, O Orfanato é uma continuação natural do cinema de fantasma espanhol que o próprio mexicano começou em 2001 com A Espinha do Diabo e que atingiu seu auge com o filme de outro espanhol, Os Outros de Alejandro Amenábar. E a grande característica que une o cinema sobrenatural do século XXI são suas conclusões, todas com um toque melancólico e negativo.
Outro detalhe que é muito presente na obra de Del Toro, e evidente depois de A Espinha do Diabo e o aclamado Labirinto do Fauno, indicado a seis Oscar®, é a conotação política e as sequelas da ditadura Franco, presentes em sua obra de forma explícita ou implícita. Há sempre uma necessidade de mostrar para o público espanhol que ele não pode se esquecer do que aconteceu, para que não se repita nunca mais os erros do passado. E é exatamente essa a metáfora de O Orfanato: um filme sobre memórias, perdas e erros.
Além de um excelente filme de terror, o longa de estreia do diretor Juan Antonio Bayona é um poético drama sobrenatural. Laura vive em um orfanato em sua infância, junto com mais algumas crianças que sofrem de algum tipo de deformidade física. Logo no começo do filme a vemos brincando com seus amigos órfãos enquanto está prestes a ser adotada. Passam-se 30 anos e Laura (agora interpretada pela ótima Belén Rueda) e seu marido Carlos, resolvem reabrir o mesmo orfanato e concretizar um sonho de poder novamente habitar o lugar com algumas crianças especiais que ela possa tomar conta.

O casal possui um filho adotado soropositivo, Simón, que começa a brincar com alguns amigos imaginários. Certo dia, eles vão passear na praia e ao entrarem em uma caverna, Simón conhece mais um novo amiguinho de mentira, Tomás, mostrando o caminho de sua casa deixando conchas para que ele a encontre. No dia da inauguração do orfanato, Simón misteriosamente desaparece, sem deixar nenhum vestígio, após uma briga com sua mãe para que ela veja a casinha de Tomás. Depois de seis meses de buscas frustradas, Laura descobre que algo terrível aconteceu no local pouco depois de ser adotada.
Uma das monitoras tinha um filho deformado, que usava uma máscara de pano para não mostrar a deformidade em seu rosto. Uma espécie de pequeno Jason Voohrees. Os demais que praticavam bullying com o garoto o levaram até a tal caverna na praia e roubaram sua máscara, obrigando-o a sair e mostrar seu rosto ou seria deixado ali. Ao preferir se esconder que encarar as outras crianças sem máscara, o menino acaba morrendo afogado quando a maré sobe e invade toda a caverna. E esse menino era Tomás.
Com a ajuda de uma equipe de parapsicólogos, incluindo o Prof. Leo Bálaban, interpretado pelo eterno Sr. Barriga, Edgar Vivar, Larua descobre que há presença de espíritos de crianças rondando a casa, que podem ter sido responsáveis, junto com Tomás, pelo sumiço de seu filho. Seguindo algumas pistas deixadas a ela como em uma brincadeira, Laura acaba por encontrar os corpos de seus cinco antigos amigos de infância, que causaram a morte de Tomás. Todos foram executados como vingança pela mãe do garoto deformado.

Nesse momento até o final do longa fica evidente que os antigos amigos de Laura tinham uma certa fatura a cobrar por ela tê-los abandonados e esquecido deles. O passado vai ecoando no presente, banhando a personagem em um sentimento de culpa e impotência, junto com lembranças da infância que vem à tona. E na ânsia de tentar começar algo novo, acaba cometendo os mesmos erros do passado e não se atentando a pequenos detalhes que vão selar o seu destino e de seu filho de uma maneira trágica.
E em meio a esse drama familiar, há elementos realmente bem assustadores, como o sinistro visual de Tomás e a cena em que Laura começa a brincar de pique-esconde com os fantasmas dos infantes que vão aparecendo, em uma cena magistralmente filmada toda em plano sequência. E mesmo que encontremos todos os clichês possíveis e imagináveis do gênero, como um casarão mal-assombrada, o filho conversar com amigos invisíveis, uma criança deformada e assustadora que é uma espécie de pária e faz desenhos sinistros, e tudo mais, o filme funciona muito bem, com uma excelente fotografia e roteiro. Você não fica incomodado de estar vendo as mesmas coisas mais uma vez.
O Orfanato teve 14 indicações ao Goya e faturou sete, incluindo melhor novo diretor para Bayona, melhor roteiro original, melhor atriz para Rueda e melhor filme. Ainda foi o filme indicado pela Espanha para concorrer ao Oscar® de melhor filme estrangeiro em 2008. Faturou mais de 20 milhões de euros só na Europa e no Brasil foi o terceiro filme mais visto do ano, atrás só de arrasa-quateirões como Piratas do Caribe 3 e Shrek 3.

