Noriko no shokutaku / Noriko’s Dinner Table
2005 / Japão / 159 min / Direção: Shion Sono / Roteiro: Shion Sono / Produção: Takeshi Suzuki; Yutaka Morohashi (Produtor Executivo) / Elenco: Kazue Fukiishi, Tsugumi, Yuriko Yoshitaka, Shirô Namiki, Sanae Miyata, Yôko Mitsuya
Em 2001, o diretor e roteirista Shion Sono nos brindou com sua visão crítica cinematográfica sobre o suicídio no Japão, a individualidade perante o coletivo, as relações familiares e a dependência dos adolescentes pela Internet em O Pacto. Quatro anos mais tarde, ele retorna a esse universo em A Mesa de Jantar de Noriko, segundo filme de uma planejada trilogia que não aconteceu.
O longa não é nem um prequel e nem uma sequência propriamente dita, mas sim coexiste no mesmo universo do seu filme anterior – presente, passado e futuro – envolvendo alguns acontecimentos paralelos, como o fatídico suicídio de 54 jovens em uma estação de metrô de Tóquio. Mas aviso logo no segundo parágrafo que A Mesa de Jantar de Noriko é um dramalhão, muito distante da explosão gore e de humor negro de O Pacto, tratando-se muito mais de um estudo de caso dos desvios psicológicos de seus personagens e claro, da sociedade japonesa. Vai ter gente a rodo falando aqui nos comentários que “não é um filme de terror”, apesar da sequência doentia que leva ao seu final igualmente soco no estômago.
A linha narrativa é dividido entre quatro personagens principais, sendo o elo de ligação de todos eles a tal Noriko do título, uma adolescente que vive em uma pequena cidade costeira japonesa, que não vê lá muito sentido em sua vida, repleta das frustrações da puberdade, e possui um pai distante e egoísta – que lhe priva de ir para Tóquio estudar pois duas de suas primas foram para a capital e voltaram grávidas. A jovem descobre então um chat de Internet e faz várias amigas virtuais e resolve de uma vez por todas fugir de casa e ir para Tóquio, abandonando completamente sua vida anterior e adotando um novo pseudônimo, Mitsuko, fazendo amizade com Kumiko, codinome Ueno Staion 54.
Sim, Ueno Station 54 tem ligação com o suicídio dos estudantes japoneses que se jogaram nos trilhos da dita cuja estação e boa parte da trama se passa exatamente no momento em que aquele surto mostrado em O Pacto acometeu o Japão – porém não é necessário ter assistido ao filme anterior para seu entendimento, pois ele caminha de forma independente e paralela, mesmo com alguns flashbacks. Logo menos, a irmã mais nova de Noriko, Yuka, também resolve seguir os seus passos e acaba fugindo, encontrando a mana e adotando o novo nome de Yoko.

As três então trabalham juntos em uma agência pra lá de bizarra, que fornece serviços de uma nova família para japoneses solitários, podendo fazer papeis de mães, irmãs, filhas, etc. Um grupo intimamente ligado com o tal Circulo do Suicídio, inclusive vendo naqueles que perderam parentes durante a epidemia de suicídio coletivo, clientes em potencial.
O pai de ambas, Tetsuzô, que trabalhava como fotógrafo em um jornal local, após sua vida cair em desgraça com o abandono das filhas e o suicídio da esposa, começa a juntar pistas em uma investigação sobre o paradeiro de Noriko e Yuka, e resolve fazer de tudo para encontra-las, inclusive contando com a ajuda de um amigo que contrata os serviços da agência em busca de uma mãe e duas filhas, para arquitetar esse reencontro, que vai resultar em um final WTF e com uma boa dose de sangue da vez (maior delas, sem contar os footage utilizados do filme anterior – mas vale também lembrar da cena do assassinato de uma das garotas da agência).
A Mesa de Jantar de Noriko é um daqueles típicos filmes xaropes japoneses, e com certeza vai desagradar muita gente, por conta de seu ritmo, de sua metragem longuíssima de 2h49m e pela falta de violência gráfica (exceto nesse reencontro final) e de situações de pavor ou jumpscare, largamente encontrados no J-Horror, por exemplo.
Mas provoca uma reflexão que pega bem pesado na cultura do vazio, do relacionamento humano, o gap entre os pais e seus filhos na sociedade moderna e a futilidade, além de abordar, mais uma vez com perfeição, o individualismo e egoísmo do suicídio como pano de fundo.

