Dead End
2003 / França / 85 min / Direção: Jean-Baptiste Andrea, Fabrice Canepa / Roteiro: Jean-Baptiste Andrea, Fabrice Canepa / Produção: James Huth, Sonja Schillito, Gabriella Stollenwerck, Cécile Telerman; Guy Courtecuisse (Coprodutor); Yves Chevalier, James Huth (Produtores Executivos) / Elenco: Ray Wise, Lin Shaye, Mick Cain, Alexandra Holden, William Rosenfeld, Amber Smith
Filme completamente independente, de baixo orçamento, obscuro e pouquíssimo conhecido, Rota da Morte é um interessante exercício de suspense e tensão, com uma atuação primorosa de dois queridos veteranos (Ray Wise, o Leland Palmer de Twin Peaks e Lin Shaye, a Elise de Sobrenatural), mesmo que com um final bastante óbvio e batido (principalmente visto nos dias de hoje).
Os diretores Jean-Baptiste Andrea e Fabrice Canepa conseguem fazer malabarismo e entregam um filme na cara e na coragem, que levou longos seis anos para ser feito, que se passa quase exclusivamente com cinco personagens dentro de um carro o tempo todo, e ainda consegue manter a atenção do espectador em uma atmosfera verdadeiramente sombria e aterradora de uma estrada escura no meio de uma floresta.
Os Harringtons são uma típica família de classe média que estão em uma viagem de carro na véspera do Natal, quando o patriarca, Frank (Wise) resolve pegar um atalho e vai parar em uma interminável estrada que não dá a lugar nenhum, cercado por uma mata fechada e assustadora, com nenhum carro passando ou alma viva para lhes dar indicação. Os primeiros dez minutos de filme e todas as pistas jogadas até seu plot twist final já entrega o que aconteceu com os pobres diabos, mas ainda assim, dá para se divertir e se deixar levar pela experiência.
Em determinado momento da viagem, a família, já em seu processo de estresse e estafa mental, além de brigas e acusações entre eles, encontra uma mulher vestida de branco pedindo carona. Ela está emocionalmente abalada, com um ferimento na cabeça e um bebê de colo coberto por trapos. Eles resolvem dar uma carona e será o estopim para o surgimento de acontecimentos bizarros e assustadores que selará o destino trágico daquela família, caso eles não consigam sair da estrada deserta.

Não dá para escrever tanto sobre Rota da Morte sem entregar muito dos detalhes que acabam por estragar o final, mas vale prestar atenção em todas as dicas, mesmo com a cacetada de furos no roteiro e situações inverossímeis, e principalmente, nos arquétipos da família que deveria ser perfeita, mas é disfuncional e cheio de segredos, mentiras, intrigas e traições que uma situação limítrofe como aquela irá fazer com que cuspam tudo um na cara do outro.
Frank, por exemplo, mistura o bom pai com o péssimo marido, sujeito esquentado, abusivo, agressivo, que destrata a mulher, e que poderia muito bem ser um homem dos #amigossecretos dos depoimentos do Facebook que está rolando. Já sua esposa, Laura (Shaye), tem um comportamento passivo-agressivo que irá se transformar na mais pura insanidade (e ela está ótima!) conforme os acontecidos trágicos vão se abatendo a família, e claro, tem lá seus segredinhos maculados. Há a filha mais velha, Marion (Alexandra Holden), que está grávida (só que ninguém ainda sabe) e passa por uma dúvida existencial, inclusive se continua seu relacionamento com Brad Miller (William Rosenfeld, que fez o filme com o pseudônimo de Billy Asher), também na viagem com os sogros, e o irmão mais novo babaca, Richard (Mick Cain) com seu típico comportamento de adolescente desmiolado e punheteiro, com suas piadas e provocações sem graça.
Os diretores, que depois não fizeram absolutamente mais nada com suas carreiras que pareciam promissoras, contam que a ideia para o roteiro de Rota da Morte partiu de uma famosa lenda urbana no interior da França, sobre um casal que dá carona a uma garota no meio de uma floresta escura e depois descobrem que era de uma jovem morta em um acidente de carro. Inclusive a lenda é citada no filme. Mas todas as situações bizarras que se desenrolam já dão a entender que não é apenas essa experiência cognitiva sobrenatural que será o infortúnio da família Harrington.
Rota da Morte foi lançado direto em DVD tanto nos EUA pela Lionsgate como aqui no Brasil, pela Europa, que só ganhou conhecimento mesmo pela força do boca a boca na época das locadoras. Inclusive eu tenho a cópia desse filme que ganhei de um chefe que sabia que eu gostava de filmes de terror, onde ele havia ganhado o mesmo em um amigo secreto, nunca havia tirado do plástico, mas lhe diziam que era “muito bom e elogiado”. Vale a pena assistir pela experiência, mas deixe de lado os furos do roteiro, fique ligado nas pistas e aproveite o plot twist mesmo que manjado e claro desde o começo da fita.

