Monsters
2010 / Reino Unido / 94 min / Direção: Gareth Edwards / Roteiro: Gareth Edwards / Produção: Allan Niblo, James Richardson; Nick Love, Rupert Preston, Nigel Williams (Produtores Executivos) / Elenco: Scoot McNairy, Whitney Able, Mario Zuniga Benavides, Annalee Jefferies
Monstros gigantes destruindo cidades parecer ser uma temática apreciada pelo diretor Gareth Edwards. Especialista em efeitos especiais, o diretor britânico resolve desenvolver seu drama humano de crítica social misturado com romance e estética documental travestido em filme de criatura, em Monstros, um tipo de preview de muito do que veríamos em seu Godzilla, quatro anos depois.
Aliás, a forma como Edward conduz seu longa, apesar de arrastado e monótono em certos momentos que pode frustrar muito aquele que espera uma espécie de Cloverfield – Monstro, O Hospedeiro ou Distrito 9, ou mesmo a recente empreitada do Lagartão Rei nas telonas, merece ser vista com primazia por uma série de motivos.
Pois estou falando de uma produção de apenas 500 mil dólares de orçamento (sendo que 400 mil foi investido na pós-produção e CGI), uma equipe de seis pessoas e três semanas de filmagem de fotografia principal, ou seja, indie e feito na raça até o talo, o que justifica a preferência por focar mais em seus personagens e na questão sócio-política, trabalhada muito mais como uma metáfora das recentes incursões americanas no Afeganistão e Iraque, e levantando a bandeira da xenofobia e da imigração ilegal. Na cara que não é um filme americano, apesar de toda a pinta.

Cada close, um flash
Aliás, para driblar o dinheiro de pinga, o diretor se vale de técnicas clássicas de mostrar pouco (ou quase nada, pelo bem da verdade) os monstros, muito mais focado em seus rastros de destruição e a crise socioeconômica, política, ambiental e militar acarretadas pelo seu surgimento, deixando um vislumbre mais completo apenas para seu final, mesmo que carregado de pieguice e de forte apelo emocional. Se para alguns a pouca aparição de Godzilla em cena irritou pacas, Monstros será a frustração da vida, pois o contexto é basicamente o mesmo, só que com muuuuuito menos grana e sem financiamento de uma major.
A trama, escrita por Edwards, começa explicando que há seis anos a NASA enviou uma sonda espacial para coletar amostras de possível vida extraterrestre no sistema solar, e ao retornar, ela caiu na América Central, fazendo com que isso causasse o aparecimento de uma nova forma de vida alienígena, altamente tóxica. As criaturas se reproduziram, mutaram e se transformaram em gigantescos monstros cheios de tentáculos e fosforescência natural, e metade do território mexicano foi considerado como Zona Infectada.
Um muro, maior que a Muralha da China foi erguido para separar os dois países e as forças militares americanas, com aquela famosa preocupação ZERO com baixas civis, vive bombardeando os monstros e destruindo cidades e vilarejos, mostrando toda a truculência yankee e aumentando ainda mais a segregação contra os latinos imigrantes.

Chamando Cthulhu
Bem, a filha de um magnata da mídia, Samantha Wynden (Whitney Able) está no México e o fotojornalista Andrew Kaulder (Scoot McNairy) é encarregado de escolta-la sã e salva para os EUA. O relacionamento dos dois é o pano de fundo para que saquemos logo Monstros é mais um filme de amor enrustido de sci-fi do que qualquer outra coisa. Inclusive essa relação amorosa mal resolvida e a tensão sexual existente, que fará com que um, digamos, imprevisto, dificulte a saída deles do local por balsa e tenham de gastar uma bela grana e atravessar a zona infectada, à mercê das criaturas.
Aliás, a cacetada de referências e influências de Edwards é visível, ainda mais oriundo dos efeitos especiais e toda a bagagem da ficção científica, inclusive os colossais monstros tentaculares, que obviamente, vemos muito de H.P. Lovecraft por ali, além dos filmes de monstros radioativos dos anos 50, sci-fi B, Spielberg, Geogre Lucas, e por aí vai, tudo capturado quase que por uma filmagem de guerrilha, completamente digital e pegada de documentário.
Não à toa, pela recepção de público e crítica de Monstros, apesar de sua irregularidade narrativa e didática, Edwards foi escalado para a direção de Godzilla – onde hoje podemos concluir que este primeiro serviu como um teste, ou um embrião do conceito embutido no revival do lagarto radioativo da Toho – e na sequência, o aguardadíssimo Rogue One: Uma História de Star Wars, credenciando-o como um dos novos e quentes diretores de sci-fi a se ficar de olho.

Risco de vida