Kelevet / Rabies
2010 / Israel / 90 min / Direção: Aharon Keshales, Navot Papushado / Roteiro: Aharon Keshales, Navot Papushado / Produção: Tami Leon, Chilik Michaeli, Aharon Keshales, Julia Schifer; Shraga Bar, Eyal Tassa, Yafit Tassa (Coprodutores) / Elenco: Lior Ashkenazi, Ania Bukstein, Danny Geva, Yael Grobglas, Henry David, Ran Danker, Liat Harlev, Yaron Motola
Raiva, o primeiro filme israelense de terror é um PUTA filme de terror, viu? Os realizadores estão de parabéns por um debute tão interessante!
Completamente WTF que subverte aquele padrão no cinema americano mainstream que estamos bem acostumados, o longa da dupla Aharon Keshales e Navot Papushado, que também escrevem o roteiro vai, da sua metade para o final, ficando tão desconexo, estranho, excitante, pulsante e sangrento, que nem parece a mesma fita que pendia para o clichê de seu início.
Explico: apesar de já deixar certo ar de mistério em sua cena inicial, onde um casal de irmãos se vê em uma situação que a moça está supostamente presa em uma armadilha de um assassino psicopata enquanto o rapaz vai procurar ajuda. Corta para dois casais, Yuval (Danny Geva) e Ofer (Henry David) e as belíssimas estonteantes Adi (Ania Bukstein) e Shir (Yael Grobglas – que você deve reconhecer do recente JeruZalem) que estão indo para uma partida de tênis e se perdem no meio de uma estrada que ladeia a floresta. O moço é atropelado e pede ajuda.
Pronto, você já torce o nariz pensando que Raiva será mais um daqueles filmes que seguem a fórmula padrão do slasher vindo dos EUA, que teremos um assassino psicopata, jovens perdidos na mata com hormônios em ebulição e tudo mais. Mas aí que você se engana, fã do horror.

Uma cadeia de acontecimentos que envolverão esses personagens, e mais o tal assassino psicopata (que na real nem é o vilão declarado do longa), uma dupla de policiais e mais um outro casal, irá desarmar completamente o espectador que esperava aquela estrutura básica premeditada, optando por uma narrativa entrecortada, diálogos secos e rápidos, personagens com background e motivação diferentes, tudo até estourar em uma escalada de tensão crescente e uma explosão de raiva, justificada ou não, que vai selar o destino de todos os ali presentes.
Esse surto descontrolado, semeado por decisões precipitadas e violentas, vai revelando a verdadeira natureza humana de cada um, transformando o filme em uma ode a brutalidade que se transforma num psicótico banho de sangue, com os personagens sendo tingidos em vermelho em uma série de situações desconexas, tensas e complicadas, tudo permeado por uma deliciosa dose de humor negro que te faz rir de nervoso conforme o filme se desenrola.
Mas o verdadeiro pulo do gato da dupla de diretores israelenses é que em nenhum momento ele tenta se enveredar por um caminho previsível e dar alguma explicação, seja ela qual for, fácil para aquele arroubo de raiva e insanidade que acomete todos os personagens, exceto uma leve pista sugerida em seu final e que nem assim pode se dizer como uma conclusão cravada em pedra. Muuuuito diferente exatamente do que o cinema americano faria.
Raiva é um excelente e criativo exercício de horror, que por vir de Israel, já se diferencia do que estamos acostumados a ver no cinema tradicional, e que a todo momento, ora com doses de violência e tensão, ora com momentos cavalares de humor negro, sabe explorar e subverter conceitos e padrões pré-estabelecidos do slasher movie, resultando em uma ópera pessimista e que vale cada minuto de sua metragem.

