[REC]
2007 / Espanha / 78 min / Direção: Jaume Balagueró, Paco Plaza / Roteiro: Jaume Balagueró, Paco Plaza, Luis Berdejo / Produção: Alberto Marino (Co-Produtor), Carlos Fernández, Julio Fernández (Produtores Executivos) / Elenco: Manuela Velasco, Ferran Terraza, Pablo Rosso, David Vert
REC é o melhor filme de terror da década passada. Sem discussão.
A produção espanhola dirigida pela dupla Jaume Balagueró e Paco Plaza (responsáveis por alguns interessantes trabalhos anteriores em separado, como A Sétima Vítima, Medo em Cherry Falls e Romasanta – A Casa da Besta) dá um novo gás aos filmes de zumbi (apesar de tecnicamente ele não se tratar de zumbis) e faz parte daquela primeira leva dos found footages do final dos anos 2000, antes da massificação e banalização. É um filme original, assustador, gore e que te deixa com a adrenalina à mil, sabendo mesclar muito bem os momentos de carnificina, de tensão e de medo extremo.
Angela Vidal é uma repórter gracinha que apresenta um programa chamado Enquanto Você Dorme. Ela e Pablo, seu cinegrafista, resolvem acompanhar uma noite na vida do Corpo de Bombeiros de Barcelona, filmando toda sua rotina para o programa, uma espécia de Comando da Madrugada por lá (nossa, lembram desse???). Então REC é todo filmado do ponto de vista do cinegrafista, com ângulos fechados, câmera tremida e o maior número de tomadas em plano sequência possíveis.

Tudo está caindo em uma monotonia danada no quartel e absolutamente nada acontece. O caldo todo entorna quando os bombeiros são acionados para resagatar uma velha senhora trancada em um apartamento de um antigo prédio no centro da cidade. Angela e Pablo, junto dos bombeiros Manu e Alex, vão até o local e encontram os moradores em pânico, reunidos no saguão. Junto de mais dois policiais, ao arrombar o apartamento da senhora, que está ensanguentada, toda desgranhenta e vestida só com uma camisola, descobrem que ela é vítima de um poderoso surto de raiva psicótica ao receber um dos policiais à dentadas e arrancar um naco de carne de seu pescoço. Pronto, daí o clima geral de histeria, descontrole e medo espalha-se pelo prédio.
Sob as ordens da repórter de nunca parar de gravar, somos testemunhas oculares, através das lentes da câmera de Pablo, de todo o horror que vai se desenvolver naquele prédio, já que a polícia e o departamento de saúde colocam o local em quarentena e todos ficam confinados ali dentro sem a menor ideia do que está acontecendo e sem receber nenhum tipo de informação, o que vai aumentando o clima de paranoia, angustia e preconceito dos ali presentes. Daí para a infecção se espalhar é um pulo, já que é transmitida através da saliva e o passatempo preferido dos infectados é morder as suas vítimas.
Depois do ataque da velha o filme vira uma montanha-russa de sustos, selvageria e sangue e tudo isso em um ritmo frenético gravado com uma câmera na mão, com a ajuda de enquadramentos fantásticos, edição de som primorosa com gritos, ruídos eletrônicos e barulhos e excelente maquiagem dos infectados, tudo de primeira, muito bem realizado pela dupla de diretores. E diferente do conceito clássico de zumbis, aqui eles lembram muito mais Extermínio de Danny Boyle, onde um surto de raiva criado através da mutação de um vírus, foge de controle e transforma as pessoas em semi-humanos histericamente incontroláveis. Só que a grande diferença de REC é que nos momentos finais do filme que vem a cereja do bolo.

ALERTA DE SPOILER: Se você não assistiu ao filme, pule para o parágrafo final. E não aconselho ler por sua conta e risco dessa vez. Assista AGORA e depois volte para terminar o texto. Quando você vai pensando que todo o motivo daquela praga era químico ou biológico, é que uma explicação religiosa, mesmo que cifrada, vem à tona. Lembrem-se que estamos na Espanha, um país altamente católico. Desesperados e perseguidos por todos do prédio que viraram zumbis, Angela e Pablo se trancam no apartamento da cobertura, e descobrem que uma espécie de padre cientista morava ali e estava praticando experiências bizarras com uma garota portuguesa supostamente possuída pelo demônio, conhecida como menina Medeiros. Porém é óbvio que a experiência deu errado e se espalhou.
Mas o detalhe é que a menina ainda está ali naquele prédio, e a cena que se segue é uma das mais angustiantes e aterradoras do cinema de horror recente. A luz do prédio foi cortada e da câmera destruída, então com a visão noturna nós vemos aparência da menina Medeiros, já crescida, qué é mega esquelética e horrenda (na verdade ela foi interpretada por um homem, Javier Botet). Sério é de pular da poltrona e roer todas as unhas dos dedos.
O filme é um tiro curto (tem apenas 78 minutos), que te prende do começo até o fim. Você quase não consegue piscar e sequer respirar. E a sequência final é estarrecedora, proibida para cardíacos. Assistir REC nos cinemas, mesmo que com mais de um ano de atraso de seu lançamento, foi uma das experiências mais emocionantes que tive na vida. A preguiça americana gerou um dispensável remake chamado Quarentena, que é um cópia cuspida e escarrada, só que sem o mesmo impacto e sem as conotações religiosas de seu irmão gêmeo espanhol, contentando-se em ser medíocre. Gerou uma franquia, composta pelo também decentíssimo REC 2 – Possuídos e mais duas continuações, uma prequela, REC 3 – Gênese, que muda totalmente o foco dos dois primeiros filmes e escamba para a comédia, ao melhor gênero splatstick e REC 4 – Apocalipse, cada um dirigido por um dos diretores.

