Saw III
2006 / EUA, Canadá / 114 min / Direção: Darren Lynn Bousman / Roteiro: Leigh Whannell / Produção: Mark Bug, Gregg Hoffman, Oren Koules; Greg Copeland (Coprodutor); Troy Begnaud (Produtor Associado); Peter Block, Jason Constantine, Stacey Testro, James Wan, Leigh Whannell (Produtores Executivos) / Elenco: Tobin Bell, Shawnee Smith, Angus Macfadyen, Bahar Soomekh. Donnie Wahlberg, Dina Meyer
Duas considerações essenciais para se começar um texto sobre Jogos Mortais 3. 1) Ele é infinitamente melhor que Jogos Mortais 2, e entra num seletíssimo rol de filmes em que o terceiro é melhor que o segundo. 2) A franquia deveria ter sido uma trilogia e terminado por aqui, porque depois… Só lamentos!
Além disso, também é o mais violento, sujo, grosseiro e gráfico da série, chegando talvez no limite do aceitável (para alguns) do infame subgênero torture porn, que a própria série ajudou a pavimentar naqueles meados dos anos 2000. E olhe que o filme teve de ser enviado SETE vezes para o MPAA para ganhar uma classificação R – proibido para menores de 17 anos sem acompanhamento de pai ou responsável.
Com o sinal verde para Jogos Mortais 3 dado logo após o estouro de bilheteria no final de semana de abertura do anterior, o longa inicialmente não teria a volta de James Wan, Leigh Whannell e Darren Lynn Bousman, respectivamente como escritores e diretor do filme. Porém com a morte do produtor dos dois primeiros, Greg Hoffman, o trio decidiu levar o que é a última incursão do vilão Jigsaw, na pele de John Kramer de Tobin Bell, às telas, completando o arco de histórias que se iniciou em 2004, e principalmente, traçando o destino do “não assassino serial” e de sua fiel escudeira e aprendiz, Amanda Young (mais uma vez vivida por Shawnee Smith), o verdadeiro objeto de teste desta história.

A trama, apesar do botão de suspensão de descrença ter de estar apertado no máximo, pelo menos voltou a colocar o vilão, mesmo que nas últimas, tomado pela metástase do câncer em seu cérebro, no controle da situação, ao invés da forçada de barra do roteiro do segundo filme, voltando para o básico, que foi o sucesso da originalidade de Jogos Mortais: colocar duas pessoas apenas no jogo, com seus deturpados conceitos de “dar valor à vida”, e limitar os acontecimentos apenas à suas ações, mesmo que friamente calculadas e antevistas pelo famigerado vilão.
O roteiro de Whannell, em cima da história do próprio e de Wan, apesar de reescrito diversas vezes, inclusive cenas em guardanapos finalizadas cinco minutos antes de algumas filmagens (isso sim é planejamento!) traz alguns elementos interessantes e um plot twist dos mais legais, envolvendo as duas vítimas do assassino do quebra-cabeça: a médica Lynn (Bahar Soomekh), raptada para tentar manter Kramer vivo o tempo necessário em que Jeff (Angus Macfadyen) complete um terrível jogo que envolve pessoas ligadas a trágica morte de seu filho em um acidente de carro, que acabou com sua vida e casamento.
Daí lógico, que toda trama, apesar de ter ligação direta com os acontecidos dos dois filmes anteriores, trazendo novamente seus personagens principais, incluindo aí o Detetive Matthews (Donnie Wahlberg) preso no final de Jogos Mortais 2 (que já começa o filme esmagando o próprio pé para se livrar da corrente, em uma cena violentíssima), Kerry (Dina Meyer), que acaba presa em uma armadilha de Amanda, e já deixando pistas sobre o futuro da franquia, principalmente com o debute do detetive Hoffman (Costas Mandylor), esta lá só pelo gore fest, o sadismo e claro, as armadilhas mirabolantes.

Enquanto nossa amiga médica está com um colar preso ao pescoço, ligado aos batimentos cardíacos de Jigsaw, que irá explodir sua cabeça se o sujeito bater as botas, Jeff terá de escolher entre a vida e a morte de pessoas ligadas ao caso do atropelamento de seu filho, como a testemunha, que está nua em uma câmera frigorífica onde um jato de água é jogado sobre ela, congelando-a aos poucos; o juiz, que deu uma sentença pífia para o acusado, que NA MELHOR, MAIS NOJENTA E INSANA armadilha da série – preferida de Tobin Bell, inclusive – que vai sendo coberto-afogado-asfixiado pelos restos mortais de porcos jogados em um triturador (sério, precisa de estômago forte para essa cena!); e o motorista que atropelou a criança, preso em uma armadilha quase medieval de torção dos membros.
Mas como se não bastasse tudo isso, ainda tem aquela famosa cena de cair a pressão, da cirurgia no cérebro de Jigsaw, filmada praticamente em close, sem o menor pudor, onde Lynn abre a caixa craniana do sujeito para aliviar a pressão causada pelo tumor. Ironicamente, a sequência mais gráfica do filme, passou incólume pelo MPAA, sem nenhum corte, uma vez que os realizadores alegaram que não havia nenhuma diferença do tipo de coisa mostrada em qualquer documentário médico exibido na TV. Vale um adendo que até a direção de Bousman está menos afetada e cheio de recortes de edição vidoeclíptica que o segundo filme.
Jogos Mortais 3 tinha TUDO para encerrar a série com chave de ouro, com a morte de Jigsaw, a morte de Amanda, a morte de Eric Matthews (ideia original do roteiro, morto pela moça descontrolada, mas vetada para a continuação futura da franquia e a volta do personagem na quarta parte), e todo o ciclo do trio Wan-Whannell-Bousman se concluindo decentemente. Mas NÃO, claro que isso NUNCA aconteceria no cinema de horror, ainda mais com o terceiro filme sendo a maior bilheteria internacional da franquia. Assim como os slashers dos anos 80, Jogos Mortais virou Brasil, com sequências uma pior que a outra sendo lançadas todos os anos, até seu final decadente. Novidade…

