Gwoemul / The Host
2006 / Coréia do Sul / 120 min / Direção: Bong Joon Ho / Roteiro: Bong Joon Ho, Ha Won-jun, Baek Chul-hyun / Produção: Choi Yong-bae, Joh Neung-yeon; Jang Junyoung; Kim Lewis Taewn (Coprodutores); Jeong Tae-sung, Kim Woo-Taek (Produtores Executivos) / Elenco: Song Kang-ho, Byeon Hie-bong, Park Hae-il, Bae Doona, Ko Ah-sung
Sem papas na língua: O Hospedeiro é o melhor filme de monstro do Século XXI. Chupa Cloverfield, Godzilla, King Kong, Círculo de Fogo e todos os outros! E não só isso, ele é o mais ~diferentão, bem humorado, e que por conta da direção exímia e impecável do sul-coreano Bong Joon Ho, o mais plástico, estético, e sensível de todos também.
E tem mais, mistura a fórmula prosaica de filme de monstro com outros elementos em uma maestria tão grande, que é impossível passar incólume a O Hospedeiro. Ao mesmo tempo da narrativa convencional do herói improvável, da família a mercê da criatura e da união na tentativa do resgate e destruição a ameaça, ele possui um tom de humor irônico e rasgado com situações verdadeiramente vexatórias, também traz aventura, um drama familiar e um cavalar comentário sociopolítico e ambiental, como um tapa na cara tanto do governo coreano quanto os americanos.
Começa já com um cientista americano mandando despejar um produto tóxico – e mutagênico, diga-se de passagem – no rio Han, em Seul, por conta de um simples TOC. O funcionário obedece, mesmo a contragosto e dizendo dos perigos daquele ato, e o que veremos tempos depois é uma gigante criatura mutante anfíbia saindo das águas do rio para atacar os banhistas em uma tarde aparentemente normal.
Hie-bong é um senhor de idade que tem uma barraca no local e vive com sua família, o atrapalhado Gang-doo e sua filha pequena, Hyun-seo. Fazem parte também desse núcleo familiar o irmão universitário desempregado, Nam-il e a arqueira Nam-ju. O colapso entre eles acontecerá quando a criatura, brilhantemente criada pela Weta Digital de Peter Jackson, ataca o local, causando pânico e uma série de mortes, e rapta a pequena Hyun-seo, em um descuido do lerdo do seu pai.

Incialmente ela é dada como morta (a cena do funeral coletivo é de rolar no chão de tanto rir, tamanho o exagero caricato que Bong imprime, fora a atuação perfeita de todos os envolvidos), e todos os que tiveram algum contato com a criatura são colocados em quarentena com risco de uma possível infecção. Até que a menina consegue telefonar para o celular de seu pai, que descobre que ela está viva em algum sistema de esgoto, onde o monstro leva suas presas para digeri-las futuramente. Daí a família foge do hospital e tenta desesperadamente encontrar o covil do monstro para resgatar a menina.
Apesar do humor escrachado e dos elementos de drama e crítica social e todos os subtextos e camadas presentes em O Hospedeiro, ele não deixa absolutamente nada a dever aos clássicos de monstro, com momentos de verdadeira tensão e terror, principalmente na sua metade final, que com certeza vão agradar todos os fãs do subgênero e aquele espectador habitual de blockbusters. E ao mesmo tempo, toda a beleza estética, fotografia e uso brilhante de cores e da trilha sonora, atraem aqueles que gostam de filmes artsy para o lado da produção fantástica, numa amálgama perfeita.
O enredo é baseado em um acontecimento real nos idos dos anos 2000 na Coreia do Sul (não o monstro, por favor) quando um militar americano despejou dejetos tóxicos no rio Han, mesmo contra a objeção de seu subordinado local. Nada mais contundente do que a mensagem pesada contra as mentiras do governo, a inabilidade em lidar com uma crise desse, hã, tamanho, a cortina de fumaça imposta na crise e principalmente a interferência militar americana em outros países, doutrina do governo Bush naqueles tempos.
O Hospedeiro é um SENHOR filme, sendo a maior bilheteria de cinema de um filme sul-coreano (mais de 13 milhões de tickets vendidos – o que significa mais de 20% da população do país) e se tornou o filme mais assistido do país, fazendo sucesso também no resto do mundo até pela sua trama de entendimento global e sua estética que mistura o mainstream com independente, a competência de seus atores, um roteiro inteligentíssimo e claro, a capacidade de Bong Joon Ho, que acabou por catapultar sua carreira, depois nos entregando os igualmente brilhantes Mother – A Busca Pela Verdade e Expresso do Amanhã, sua primeira incursão hollywoodiana.

