La hora fría / The Dark Hour
2006 / Espanha / 93 min / Direção: Elio Quiroga / Roteiro: Elio Quiroga / Produção: Elio Quiroga; Jerôme Debève, Margaret Nicoll, Juan A. Ruiz, Sebastián Álvarez (Produtores Associados); Octavio Fernández-Roces (Produtor Associado – não creditado); Elio Quiroga (Produtor Executivo) / Elenco: Silke, Omar Muñoz, Pepo Oliva, Carola Manzanares, Jorge Casalduero, Julio Perillán, Sergio Villanueva, Pablo Scola
Caso você nunca tenha assistido A Hora Negra, meu melhor conselho é assistir a esse pequeno-grande sci-fi espanhol independente primeiro, e depois voltar aqui para essa resenha (mas volte, tá), pois quanto menos se souber sobre o plot do filme, melhor.
Dirigido por Elio Quiroga, podemos colocar de forma simples e direta que ele remete a uma série de elementos e influências de uma série de filmes de terror e sci-fi clássicos, que obviamente passam por A Noite dos Mortos-Vivos de George Romero, e Dia dos Mortos, até chegar em A Última Esperança da Terra, Extermínio e Alien – O Oitavo Passageiro, pegando ideias, conceitos e atmosferas que se encaixam como uma luva.
Muito do que se diz por aí, é que A Hora Negra é um filme de zumbis, e isso definitivamente, no sentido bíblico dos longas do subgênero, ele não é. Passado em um futuro pós-apocalíptico a humanidade sucumbiu a uma terrível guerra química e nuclear e que praticamente destruiu a Terra, e um grupo de oito sobreviventes díspares moram em um abrigo subterrâneo, não podendo abandoná-lo e vivem sob constante vigilância, uma vez que o mundo lá fora está repleto de criaturas mutantes infectadas conhecidas como Estranhos.
Com a escassez dos produtos de subsistência, o líder do grupo promove um racionamento, que inclui desligar a energia elétrica do bunker, e daí que acontece a tal “Hora Negra”, ou “Hora Fria”, que seria a tradução correta do título em espanhol, uma vez que além de falta de luz, também se encerra o aquecimento local, quando eles terão de se trancar em seus quartos para sobreviver de uma ameaça maior, já que esse é o horário que outro tipo de criatura, ainda mais mortal, chamada de Invisíveis, ataca.

Quando eles precisam desesperadamente de suprimentos, medicamentos e munição, uma expedição é organizada a um depósito, para conseguir garantir sua própria sobrevivência, mas a grande treta é que ele fica exatamente na zona contaminada, e daí que o caldo entorna de verdade, como todo bom filme sobre futuros pós-apocalíptico.
Apesar da sensação de recorte e cole de vários filmes do gênero, ainda assim o ar de originalidade de A Hora Negra é impressionante, ainda mais se tratando de um filme europeu independente e de baixo orçamento, que consegue driblar esses problemas com a exímia direção de Quiroga, que prefere utilizar a acertadíssima tática em nos meter medo exatamente por estarmos tão às escuras quando os personagens, muito mais trabalhando com o imaginário, além de acentuar sempre a tensão, a sensação de urgência, desespero e desamparo do grupo e o sufoco daquela vida miserável que levam.
Some isso a toda atmosfera construída por conta da trilha sonora e da belíssima fotografia sóbria e depressiva dos ambientes lúgubres, escuros e fechados, a brilhante atuação do elenco, e você tem aquele tipo de filme soco no estômago sem esperança, pessimista com relação ao futuro da humanidade, como o próprio tema propõe, mas com um plot twist, que ao mesmo tempo pode causar surpresa por seu brilhantismo, fugindo um pouco dos clichês e dos padrões convencionais do gênero, ou decepção na conclusão ambígua.
Apesar de algumas boas perguntas ficarem no ar sem explicação, todo o clima melancólico e claustrofóbico e a competência por trás das câmeras de todos os envolvidos em fazer um filme sci-fi original e criativo dentro de suas próprias limitações, apesar da controvérsia final, faz A Hora Fria uma peça única e um interessantíssimo filme do gênero.

